sábado, 28 de abril de 2007

Boa Noite . . .

Noite, eterna confidente. Ser que nos toma, possui-nos, leva-nos nos seus braços para a imensidão de um estado surreal, quase psicótico aonde a loucura e a razão andam de braços dados. Uma altura de sonhos e pesadelos.Entrego-me á noite, somos dois amantes juntos num beijo que nos funde num só. Deixo que ela me agarre, separando-me das amarras que me prendem a uma existência cruel e sem nexo, aonde não passo de um espectador que assiste ao desenrolar da sua própria vida.É suave, o toque da noite e da escuridão.
Sensual e irresistível, que nos tenta para um caminho cada vez mais profundo até se perder na imensidão de um pensamento.O estado é difuso, da matéria que são feitos os sentimentos.
À noite alia-se a solidão. Inseparáveis nestas alturas de meditação. Uma dor profunda que rasga o tecido suave que sustentava o meu ser.Sinto que não estou presente.
Sinto que vivo outra vida para além desta, que tento desenrolar o meu papel o melhor que consigo, e que, no entanto, me contradiz e humilha, arrastando-me por um destino incerto e inóspito que me acolhe e acaricia.Quero romper com tudo o que me prende, ser livre de mim próprio.Não estou cá, estou aonde posso viver finalmente, entregar-me livre ao pensamento.
Estou longe, nessa terra de sonho, onde tudo o que desejámos é real e possível.Sei que amanhã voltarei de tal terra de encanto. Voltar a assistir o desenrolar da minha própria vida.
Apenas posso ansiar que a Noite me leve de volta. É tudo o que eu lhe peço, não é muito, e no entanto é o suficiente para contentar uma alma perdida entregue ao sonho. * Ricardo Melo

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