segunda-feira, 23 de junho de 2008

Um dia,

apaixonei-me pela Razão. Pela minha Razão. Ela dizia-me, que a minha cara metade teria de ser tudo aquilo que eu idealizo. Mais! Teria de ser tal e qual como imagino, sem tirar nem pôr. Pois só assim, seria feliz. Racionalmente feliz. Ela deu-me um exemplo. Fazendo questão de frisar, que a minha cara metade, interior e exteriormente, deveria ter todos aqueles atributos. Os certos. Para que eu fosse feliz. Racionalmente feliz! Teria de ser tão perfeito, como aquele vestido que nunca vi, mas que inúmeras vezes desenho na minha mente. Teria de ser branco, porque simboliza a paz, a calma. Teria de ser estreito para que se encaixasse no meu corpo, e para que fizesse sobressair a minha silhueta. Teria de ter um cheiro próprio, para que combinasse na perfeição, com o cheiro da minha pele. Teria também de ter um brilho único, para que iluminasse sempre o meu sorriso. E eu claro, achei tudo isto muito engraçado. O que a Razão se esqueceu de me dizer, é que não existe perfeição, e que para ter a cara metade nestes termos, teria de haver 1º uma costureira que conseguisse fazer o tal vestido, tal e qual eu o idealizei. E aí é que o bicho pega. A minha razão traiu-me. Porque jamais encontrarei a costureira que faça o meu vestido na medida exacta. Com o corte, com o tamanho, com o tecido, com a textura e o aroma ideal. E se conseguisse tal proeza, eu correria sempre o risco de o vestir, e ver que afinal, ele não me ficaria tão bem quanto eu gostaria que ficasse. Digamos que, razão que não vê, coração que não sente. Vamos equilibrar as coisas. Dizem que o amor é cego, eu não concordo. De todo que não é cego, com ele estão bem presentes os seis sentidos. Perguntam-me vocês, seis? Sim, seis. A razão também está presente. (ou deveria estar). Aliás, penso que deveria estar sempre, e essa sim, sempre na medida certa. Mas. Daí a ser ela a comandar o nosso coração, são coisas bem distintas. Há bastante tempo que me divorciei da razão (amigavelmente claro), assim como despi o vestido branco. Sabem porquê? Porque hoje em dia, prefiro arriscar num vestido encarnado - (fogo, paixão, inquietação, ternura, amor), num vestido que não foi idealizado por ninguém, num vestido, que nunca sarrabisquei em pensamentos. Num vestido que mesmo que não caia sobre o meu corpo na perfeição, me faça acima de tudo, sentir bem. (que me "complete", que me conforte). Eu não sou perfeita, nem para lá caminho, por alma de quem quererei eu - o perfeito (idealizado), se estarei sempre, uma "bainha" abaixo dele? No dia em que perdoei a minha razão, senti que a paixão é urgente, e que arranjar uma costureira que desenhasse o meu vestido branco, na medida exacta, era muita exigência da minha parte. Descobri que, enquanto esperava que o "vestido ideal" ficasse pronto, estava a perder tempo, estava ser "Racional e opcionalmente infeliz". Descobri que o verdadeiro sabor da paixão está no momento, e o momento vive-se, não se adia. Assim como descobri, que pouco importa a beleza do vestido em si. Porquê? Porque a maior beleza, está dentro de nós. A beleza rara, que não é um simples vestido que a exalta. Vamos juntar o vestido a um momento apaixonado? Siga. O vestido é acessório, é condimento. (que provavelmente passado uns minutos, está no chão). No final das contas, o que importa? Se o vestido é acessório e se pouco interessa a cor, a fragrância, ou a medida exacta. Dispam-se da razão. Eu já o fiz. Vistam-se de momento. Porque. Pensem. O que é o momento? É tudo. (pelo menos naquele momento). Se um dia me apaixonei pela razão. Pela minha razão. Sei que não foi em vão. Pois hoje, tenho plena consciência que nunca arranjarei a costureira que me fará "aquele vestido", com o qual sonhei. E. Sinceramente, nem quero. Prefiro andar de mão dada com a paixão, com o amor (com o qual nunca sonhei) e ser " Plenamente Feliz", do que andar de montra em montra à procura de algo que idealizei. E ser apenas, "Racionalmente feliz". Quem sabe um dia destes, enquanto passeio de mãos dadas com o amor, não olhamos juntos na mesma direcção, e encontramos, não o vestido perfeito, mas aquele que será jogado no chão, num momento de pura paixão? Aquele, escolhido pelos dois. Tocado pelos dois, sentido pelos dois. Um dia...

6 COMENTÁRIOS:

Anónimo disse...

A verdade é essa... privarmo-nos do presente real com a esperança num futuro ideal é algo que muitos de nós fazemos. O importante é em cada etapa aprendermos com as nossas escolhas e realmente um dia conseguirmos avaliar a nossa caminhada com essa mesma clareza.

Com a inspiração por detrás destas palavras surge mais uma vez um texto excelente. O verão chegou e com estes pedacinhos vais certamente iluminar e aquecer muitos dos corações que por cá passarão.

Beijo patinha abananada =)

A. O. disse...

Lindo =)**

Ana Silva disse...

=)** muah_

Anónimo disse...

Nada mais a dizer.

Está...

Lindo!!....

Kátia disse...

Não me surpreende o texto belíssimo vindo de ti.Tão sentido em cada linha...continue
imprimindo suas expressões ricas para nós.
Beijo!

Ana Silva disse...

:) Obrigada Kátia

Beijo e baunilha ^^